sábado, 14 de agosto de 2010

Na contramão da ilusão


Na contramão da ilusão






O poeta está nu
Sempre
No frio da noite
Angu

No poema cru
Dentro
Fora
Nu

O poeta nu
Chorando
Vendo
Presenciando um anu

Na verdade
Ilusão
Que o poeta insiste
Mas a dor persiste

Poetar é estar nu
Correr na contramão
De onde jorra
Sangue fresco
Urubu

Todos estão felizes
E o poeta está triste
Mas se não ouvesses
Assim
A sina do poeta
Que a ser poeta insiste

Todos se enamoram
Pulam gritam e cantam
Até parece
Que a felicidade existe
O poeta so divide
Sua dor consigo

E o poeta esta so
Sempre
O poeta e suas ilusões
No realismo horrível
De ser como é
Um realismo irreal
Na realidade da solidão

Todos vivem intensamente
Até parece
Que isso existe
O poeta não se restringe
A ser feliz de mentira
Fingir que é
O que na verdade
Todos sabem


Apenas poetar
Ensaiando a vida toda
A arte de amar
Chorar

Todos se regalam
E os poetas se calam
Na maldade humana
Que não a medida
Que se meça

A montanha da mente
Estranhas incertezas escalam
Ao leito quente
Emotivo do coração
De um poeta


No final todos são esquecidos
Mesmo
Todos morrem
Mas os poetas
Tem sua maior florada
Então

Tudo de feliz e mal
De bom e triste
A morte engole
Implacavelmente
Mas a poesia não
Faz lembrar sempre
Dos seus autores
Poetas

A morte
Não mata de todo o poeta
Fica ainda
A parte mais essencial
Na terra, nos livros, nas livrarias
Na bibliotecas ...
A poesia


A morte
É uma contramão
Aos poetas
Enquanto faz esquecer os normais
Os poetas
A morte catalisa sua arte
Sua lembrança
Explodindo em obras
Mundo a fora

É assim,
Na contramão
Que se vive
A vida inteira o poeta
Quando se morre
E que se mais vive
Na memória alheia

A poesia é para a memória humana
Um mergulho no oceano
Alto mar sem nada
De cara e corpo limpos
Buscando o intangível néctar
Que jorra e bomba
A fonte da eternidade

Se poeta é viver morto pra vida
E vivo pra morte
Talvez seja por isso
Que a morte é tão generosa
Com os poetas

Ascender no ato de morrer
A essência de um ser poeta
Só mesmo um poeta

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