quinta-feira, 5 de novembro de 2009


Últimos instantes (em versos)


Passo
Uma vida em descompasso
De graça em ter resultado nada é de graça
Mas de mim todos acham graça
Passo a vida na desgraça
No escuro , isolamento sem alegria
Sofro de múltiplas alergias
E minha tristeza contagia tudo que faço
Me desfaço todo dia
E só o que me traz alivio é a poesia

Vivo um coexistir
Numa piada sem graça
Só encontro conforto na poesia
Nela faço minha moradia
De meu mundo imaginário
Desses versos sou arrendatário

Ao acordar já me detenho em desdém
Um lobo solitário
Em uivos num súbito sulfrágio
E mesmo forte
Me sinto cada vez mais frágio

Nada nessa miséria me convém
De um inferno habitar
De hábitos maltrapilhos em hábitos exemplares
De rapaz trabalhador
Faço um estágio na dor de tentar
Tentar e nunca alcançar

Versos fortes faço agora
Na minha fraqueza
Que vem junto com minha franqueza
Minha alma e coração
Mente e corpo
Tudo dessa e podre por essa vida em desgraça
Choram
Choramos juntos eu e minha imaginação
Mesmo assim até o fim e no fim
Imploro misericórdia e perdão
Por ser assim
Um ser tão sem graça

Quem nasce assim
Não tem escape
Vive esperando alguém
Que caiba no seus planos abstratos
E não adianta lutar
Nem relutar
Só o que dessa vida irá conseguir
É o amargo labutar

Estudar , trabalhar, namorar...
Coisas assim enfim
Tentar mudar...
Só irá piorar
A desgraça já instalada
Quem nasce assim
É condenado a esperar
Sempre uma desgraça ainda maior
Do que aquela que ser passou

E assim
Muitos de nos
Nessa vida em rosca sem fim
Vai e volta
A miséria de ser um ser contemplativo
Da solidão cativo


Como a vida em desgraça quer
Até em uma esquina
Em uma dessas quaisquer
Madrugada a dentro ao atracar com a ilusão
A flexa da inspiração
Atravessar de vez o coração

Escorre-te entre os dedos devassa
A poesia que apenas ela
Azucrina única dessa vida em melancolia
Penumbra em sincera alegria


Agora vou-me embora
Joguei demais conversa fora
Peço-lhes licença
Vou agora mesmo
Ao meu enterro

Mas antes que me joguem na cova
E terra venha me cobrir
Quero ainda
Pedir demissão de algumas coisas:
Me demito da incerteza
Quero viver na clareza da certeza
Me demito do emprego
Quero dias e noites de sossego
Me demito ta falsidade
Quero sinceridade recíproca
Me demito da vida de desgosto
Da vida quero sentir o outro gosto
Me demito de mim mesmo
Em instantes futuros
Não passarei de lembranças
De poesias e versos
Essa que a todos os desgraçados
Deixarei como herança

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